Impossível não chorar com o filme
“Marley e Eu”, além de tantos outros que tratam do relacionamento entre cão e
homem. Quem nunca teve um melhor amigo que parecia “entender” tudo? Por isso,
no dia 4 de outubro, celebra-se o Dia do Cão, data escolhida por coincidir com
a época da morte de São Francisco de Assis, padroeiro dos animais. “Eu costumo
dizer que minha cachorra é minha filha, porque ela sente quando estou feliz e
me dá apoio nos dias de tristeza. Já chorei muito com ela no meu colo e percebi
o respeito a e solidariedade do cão perante uma situação dessas”, diz Isabelle
Ishinoua, secretária, que vive em São Paulo com sua cadela Molly, uma cocker
dócil e brincalhona.
Mas você já parou para pensar o que se
passa na cabeça de um cachorro? Alexandra Horowitz, autora de “A Cabeça do
Cachorro” (Editora Best Seller), sim. Ela escreveu o livro que se tornou grande
sucesso de crítica e vendas no mundo inteiro. Horowitz é doutora em ciência
cognitiva pela University of California, nos Estados Unidos, e relata, em 420
páginas, como esses animais percebem o mundo ao seu redor, além do que os donos
devem estimular ou punir, visando o bom relacionamento de ambos.
Em um dos capítulos, a autora faz uma
comparação interessante de percepções sobre uma rosa. Nós, seres humanos, temos
a flor como um ícone de beleza; consideramos sua cor, seu formato e perfume,
além do que ela representa como carga emotiva. Já para o cachorro, a beleza não
tem nada a ver com a rosa. A cor é quase inexistente em sua visão, o perfume é
ignorado, a menos que seja misturado com um spray de urina recente. Mas, calma,
essa comparação não quer necessariamente dizer que eles são ignorantes, apenas
visa explicar alguns comportamentos repentinos que nossos amigos adotam de vez
em quando.
Sabe-se que o convívio com esses animais
traz mais benefícios à saúde humana do que se imagina. “Acariciar um cachorro
eleva os níveis de imunoglobulina A, anticorpo importante que atua na prevenção
de várias doenças. Essa produção só ocorre porque a troca de carinho entre dono
e animal resulta no relaxamento”, ensina Carine Redígolo, coordenadora de uma pesquisa
encomendada pela Comissão de Animais de Companhia (COMAC) para o Departamento
de Psicologia Experimental da Universidade de São Paulo (USP).
Jorge Pereira, um experiente adestrador
de animais, vai além: “O amor pelos animais de estimação - devido ao fato de
serem companheiros leais dos donos - se traduz em um sentimento difícil de
encontrar: o amor incondicional. Mas, em uma sociedade cada vez mais
amedrontada pela falta de segurança, com cidadãos altamente estressados e
carentes, a ligação exagerada pode se tornar até prejudicial. É necessário amar
o cachorro, mas é primordial impor limites”, alerta o especialista.
Assim como lobos, os cães são altamente
observadores e procuram aprender com o comportamento de quem está ao seu lado
(como se estivesse em uma matilha). Horowitz afirma que o nível de percepção e
aprendizado do cachorro vai muito além do que os humanos imaginam. Outra
diferença apontada pela autora diz respeito ao tempo. "Podemos dizer que
os cães veem o mundo mais rápido do que fazemos, mas o que eles realmente fazem
é ver o mundo um pouco mais a cada segundo, porque enxergam entre nossas
piscadas. Isso explica por que eles são sempre tão atentos e parecem estar, na
maioria das vezes, em eterna prontidão", afirma.
Outra curiosidade apontada no livro de
Alexandra Horowitz: os fiéis amigos do homem ouvem barulhos a uma distância
muito maior que a nossa, porém não conseguem identificar com precisão de onde
vem o som. Assim é comum vermos os cachorros inquietos, cheirando e ouvindo
para colher informações a fim de chegar a um veredicto sobre o local que
propaga aquilo.
Para Pereira, a troca de carinho entre
dono e animal é sentida por ambos os lados. “Eles percebem, sim, o quanto são
amados e sabem de sua importância na família. Criam uma ligação de dependência,
proteção e solidez com o dono, independentemente da raça do cachorro ou
condição social do ser humano.”
Curiosidades sobre eles
O veterinário Youssif Said, do Petshop
Cão & Tal, de São Paulo, responde a cinco perguntas engraçadas sobre nossos
amigos:
1- Por que eles fazem xixi nos pneus dos
carros?
Simplesmente para demarcar território.
Qualquer objeto que tenha uma memória olfativa alta (como pneus) é um convite
para que o cão urine e deixe sua assinatura para que outros da matilha possam
saber que ele passou por ali. O objeto em si (o carro) torna-se então um ponto
de referência para o animal.
2- Por que eles rodopiam tanto antes de
deitar?
Na natureza os cães costumam fazer
buracos na terra para se sentirem mais protegidos ao deitar para o descanso. Há
também os cães esquimós que fazem um abrigo para descansarem. Esse rodopio
serve para ajustar o local onde vão dormir ou repor as energias, como quando
nós arrumamos nossa cama.
3- Por que eles colocam a cabeça para
fora do carro?
Para eles colocar a cabeça para fora na
janela do carro é como “surfar”, já que a explosão de odores e informações que
ele consegue colher em um pequeno passeio é enorme.
4- Por que eles cheiram o bumbum um do
outro?
O bumbum é como se fosse uma
identificação entre eles e também informa que nível reprodutivo do outro
cachorro. Podemos compará-lo ao nosso cartão de visitas, porque o cheiro para
eles é repleto de informações.
5- Eles uivam quando estão tristes?
Não. Normalmente uivam quando estão felizes. É
um meio de comunicação entre eles, equivale a cantar às vezes, mas é comum